sexta-feira, 16 de junho de 2017

Insetos? Delícias rejeitadas...Entomofagia: insetos como fonte alimentícia...

Os insetos complementam o cardápio de aproximadamente dois bilhões de pessoas em muitos países ao redor do mundo, predominantemente em partes da Ásia, África e América Latina, e tem sido parte da dieta humana desde tempos remotos. Contudo, apenas recentemente a entomofagia tem atraído a atenção da mídia, instituições de pesquisa, chefes de cozinha e outros membros da indústria de alimentos, além de legisladores e agências de regulamentação.
O Programa de Insetos Comestíveis da FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) também tem examinado o potencial de aracnídeos (aranhas e escorpiões) para a alimentação animal e humana, uma vez que, por definição, estes não são considerados insetos.
Mais uma vez falando de independência e soberania alimentar, ou seja, “o direito de cada nação a manter e desenvolver os seus alimentos, tendo em conta a diversidade cultural e produtiva”, assim como as plantas alimentícias não convencionais (PANC), os insetos comestíveis também são uma alternativa de alimento e renda para muitas comunidades.

Os insetos apresentam vantagens:

Vantagens Ambientais


Eles tem altas taxas de eficiência na conversão alimentar pelo fato de serem animais de sangue frio. Por exemplo, grilos precisam de seis vezes menos alimento do que o gado, quatro vezes menos do que ovelhas, e duas vezes menos do que os porcos e frangos de corte para produzir a mesma quantidade de proteína. Eles podem se alimentar de resíduos orgânicos, como restos de alimento e esterco, podendo transformá-los em proteína de alta qualidade, inclusive para utilização na alimentação animal. Insetos produzem menos gases de efeito estufa e sua criação utiliza muito menos água e extensões de terra que a pecuária convencional.

Vantagens à saúde

Insetos são fontes de proteínas de alta qualidade, ácidos graxos, vitaminas e micronutrientes (como ferro, magnésio, manganês, fósforo, selênio e zinco) e a concentração proteica e lipídica de muitos insetos é superior à de vacas, porcos e galinhas. Também são considerados animais de baixíssimo risco em relação a zoonoses (doenças transmitidas de animais para humanos) e muitos insetos/produtos de insetos tem funções medicinais, sendo o mel (produto de abelhas!) o exemplo mais famoso.
Vantagens sociais
A coleta e a criação de insetos podem ser estratégias na diversificação dos meios de subsistência. Além de melhorar diretamente a alimentação, essas atividades podem servir como opção de renda por meio da venda do excedente da produção. A coleta e criação também podem oportunizar ações empreendedoras, seja em economias desenvolvidas, em transição ou em desenvolvimento. O processamento de insetos para a alimentação humana ou animal é algo que pode ser feito com relativa facilidade. Podem ser consumidos os adultos e formas imaturas, de diferentes formas, alguns inteiros, outros processados em pasta ou moídos como farinha, fritos, cozidos, assados e, além dessas opções, também existe a possibilidade da extração de suas proteínas e produção de ingredientes.

Mais de 1900 espécies de insetos comestíveis já foram registradas.

O maior grupo é o dos besouros (coleópteros) (31%), seguido pelas mariposas e borboletas (lepidópteros) (18%) e abelhas, vespas e formigas (himenópteros) (14%). Estes, seguidos de gafanhotos, esperanças e grilos (ortópteros) (13%), cigarras, cigarrinhas, cochonilhas e percevejos (hemípteros) (10%), cupins (isopteras) (3%), libélulas (odonatas) (3%), moscas (dípteros) (2 %) e outras ordens (5%).
Apesar dos benefícios conhecidos, a aversão aos insetos comestíveis faz com que uma quantidade considerável de proteína animal fique indisponível, uma vez que o fenômeno é visto como prática de povos primitivos.
Nojo é uma das nossas emoções mais básicas – a única que temos que aprender – e nada o aciona tão bem quanto a estranha comida dos outros. (Herz)
Curioso que a ingestão de invertebrados (lagostas, caranguejos, camarões, ostras, lulas, etc) seja considerada como constituinte regular da alimentação, enquanto que o consumo de insetos, também invertebrados, seja visto com reservas pela maioria da população. Fato é que, por razões estéticas e culturais, muita gente tem nojo de comer insetos. Além de serem considerados nocivos e transmissores de doenças, o que é verdade dependendo do contexto e da espécie, muito está vinculado a propagandas de inseticidas, que acabam transmitindo essa imagem de bueiro.
Fora as questões de aceitação popular, a Entomofagia ainda tem outras limitações: muita pesquisa está em andamento (e devem continuar!) na busca de dados sobre segurança alimentar e faltam investimentos, regulamentação e criação de legislação acerca da produção e venda de insetos com fins de consumo humano e animal.
Consideradas essas questões e tudo o que já se tem de informação, as pessoas podem começar a digerir a ideia a respeito da introdução de insetos na alimentação, como rica fonte nutricional, inclusive, alternativa contra a desnutrição em várias partes do mundo; abundantes, baratos e, segundo relatos, agradáveis ao paladar.

Entrevista com Gilberto Schickler, Zootecnista, consultor em Insetos Comestíveis e Responsável Técnico pela VidaProteina

Contextualizando a Entomofagia no Brasil: entrevista com Gilberto Schickler, Zootecnista, consultor em Insetos Comestíveis e Responsável Técnico pela VidaProteina.

Considerando o panorama da Entomofagia no Brasil: quanto a pesquisa avançou desde os primeiros estudos sobre o tema até 2015?

GS: As pesquisas relacionadas a Entomofagia Humana no Brasil vem evoluindo de forma significativa na última década, com estudos como os do Prof. Eraldo Medeiros da UEFS/BA sobre a importância dessa riquíssima biodiversidade na alimentação e na cultura de populações no Brasil e no mundo, e do Prof. Rossano Linnassi do Instituto Federal Catarinense – Campus Camboriú, sobre como utilizar essas matérias primas em receitas que além de nutrirem, trazem riqueza visual, de aroma e paladar para quem as degustam.Cresceram também as pesquisas com relação a tecnologia para produção massal de insetos comestíveis, feita principalmente pela iniciativa privada, por empresas que atendem o mercado de alimentos para animais de estimação como pássaros, peixes ornamentais, pequenos répteis e roedores.

Cresceu o número de alunos, professores e empreendedores interessados nessa área?

GS: O interesse por parte do setor acadêmico realmente surpreende, de forma positiva. Estamos em contato com pesquisadores trabalhando com uso de insetos como alimento para peixes, tanto ornamentais como para consumo humano. Iniciamos pesquisas relacionadas ao desenvolvimento de rações para otimizar a criação de insetos em cativeiro, e que possam incrementar seu potencial como alimento funcional (ácidos graxos polinsaturados, minerais, etc). A digestibilidade de insetos por cães e gatos é outro tema de pesquisa. O caráter inovador e de sustentabilidade relacionado a toda a cadeia de negócios que tende a surgir com o uso de insetos como alimento animal e humano, é um fator crucial para atrair estudantes de biologia, zootecnia, agronomia, engenharia de alimentos, engenharia agrícola, entomologia, enfim, todas aquelas áreas do conhecimento relacionadas a produção e consumo de proteínas de origem animal de alto valor biológico.Os mini-rebanhos de insetos comestíveis tem despertado interesse de empresários também, basicamente para a fabricação de rações especiais, para o uso como isca para pesca ou mesmo a venda na forma viva. O comércio informal existe por todo o País, em pequenos pet shops especializados em aves, em lojas de pesca ou em agropecuárias.

Quais universidades brasileiras, atualmente, estão envolvidas com esse tema?

GS: As parcerias estão sendo estabelecidas principalmente na Universidade Federal de Lavras/MG, nos Departamentos de Zootecnia e Entomologia. É preciso citarmos também a Escola Superior Agrícola Luiz de Queiroz – USP/Piracicaba, o maior centro de pesquisas no Brasil relacionado a produção massal de insetos. O foco de pesquisa do Departamento de Entomologia da ESALQ é a produção de insetos para controle biológico; mas ainda assim, encontramos nessa instituição, na pessoa do Prof. José Roberto Parra, apoio para que sejam iniciados estudos básicos sobre a biologia das principais espécies produzidas com finalidade alimentar no Brasil.

E como está evoluindo a aceitação da população com a ideia de comer insetos?

GS: No mundo são cerca de 2 bilhões de pessoas que praticam a Entomofagia. E iniciativas como a da FAO, de estimular a pesquisa e o uso de insetos como alimento, vem ajudar no incremento desse número.No Brasil podemos dizer que o conhecimento acerca desse potencial alimentar vem crescendo, e a curiosidade também. Com frequência cada vez maior vemos pessoas na mídia falando sobre o tema, experimentando e mudando seu conceito sobre esse recurso.Acredito que no Brasil o consumo não é maior por falta de oferta e do alto valor. E ainda temos uma rica oferta de vários tipos de carnes nobres no Brasil, e é impraticável querermos alterar esse hábito.A ideia é conscientizar com cada vez maior intensidade as crianças de hoje, para iniciar a formação de um mercado sólido em 20 a 30 anos, de pessoas que estarão dispostas a colocar no carrinho de compras além do frango, do peixe, da carne de boi e suína, um pacote de nuggets de grilo e hambúrguer de larvas.Hoje vejo potencial para surgimento dos primeiros negócios relacionados a biscoitos, barras de cereais, petiscos e doces com insetos comestíveis.

Quais empresas brasileiras atuam na produção e venda de insetos comestíveis?

GS: Já temos no Brasil algumas empresas registradas especializadas na produção e comércio de insetos comestíveis, como a Nutrinsecta em Betim/MG, a RepteisBrasil em Valinhos/SP e a VidaProteina em Neropolis/GO.

Quais as perspectivas para o futuro da Entomofagia no Brasil?

GS: A Entomofagia é uma prática alimentar que pode incrementar significativamente a produção de proteína animal no Brasil, seja para alimentação animal e/ou humana, seja para consumo interno e/ou exportação.Somos um dos maiores produtores mundiais de alimentos, e a tendência é que o Brasil seja cada vez mais importante nesse sentido. E se a FAO indica um mercado promissor para os insetos dentro de 3 a 4 décadas, porque não se estimular a produção de insetos comestíveis como futura área de atuação para o nosso agronegócio? O consumo de insetos é uma maneira de enriquecermos nossas possibilidades de sobrevivência no planeta, e também as possibilidades do paladar. Hoje somos dependentes de cerca de 20 tipos de carnes. Com os insetos as possibilidades passam de 2000! São 2 mil novas matérias primas para elaboração de diversas receitas, desde a sopa até o bolo, do pirulito à mortadela.Insetos comestíveis podem viabilizar a criação de uma enorme variedade de novos produtos e indústrias, se houver investimento em tecnologia e escala de produção, para que se tornem alimentos acessíveis. Mas também podem ser uma forma de melhorar a alimentação da população de baixa renda, podendo ser criados com alimentos de baixo ou nenhum custo como farelos e cascas, num pequeno espaço e de forma constante.Atualmente oferecemos para quem quiser se aprofundar no tema “Criação e Consumo de Insetos Comestíveis” nosso curso online no site www.insetosonline.com.br.

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