Os supersentidos dos bichos,
Ciência, TOP Curioso
Visão ultravioleta, audição ultrassônica, leitores eletromagnéticos, sensor infravermelho, faro impecável. Alguns animais possuem habilidades sensoriais que desafiam a imaginação humana. Conheça cinco impressionantes superpoderes dessas criaturas:
5. Bússolas vivas
A ideia de que alguns animais podem se deslocar utilizando uma bússola interna é tão extravagante que, num passado recente, era tida como pura fantasia. Hoje é sabido que muitas espécies — incluindo pombos, galinhas, toupeiras, bois e tartarugas-marinhas — conseguem detectar o campo geomagnético da Terra com alta precisão.
Tartarugas cabeçudas como essa acima leem o campo magnético terrestre a fim de saber para onde devem nadar. Seus sensores as guiam para desovar em águas mornas durante a primeira migração ao redor da orla do Atlântico Norte. Conforme o tempo passa, elas vão criando um mapa magnético detalhado e aprendem a reconhecer mais variações de força e direção das linhas dos campos.
O mistério é que não se sabe com certeza como os animais sentem esse magnetismo. Parte do problema vem da possibilidade dos campos magnéticos passarem por tecidos biológicos sem que estes sejam alterados. Além disso, a detecção pode não precisar de estruturas especiais — talvez seja baseada numa série de reações químicas.
Mesmo assim, muitos pesquisadores acreditam na existência de receptores magnéticos nas cabeças das tartarugas. Eles seriam baseados em cristais de magnetita, que se alinham ao campo magnético da Terra e ativam algum tipo de receptor ou uma célula capilar quando mudam de polaridade.
O mineral já foi encontrado numa bactéria e nas narinas de peixes como o salmão, que também aparentam usar o campo magnético da Terra durante suas migrações.
Segundo Kenneth Lohmann, da Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill, a sensação das tartarugas seria como “nadar prestando atenção em dois tufos de cabelo, um do lado direito e o outro do lado esquerdo da sua cabeça. Quando você está indo em direção ao norte, nenhum dos tufos se move. Quando você vai para o leste, a sensação é que alguém está puxando levemente o tufo da esquerda; quando você vai para o oeste, você sente uma puxada no tufo da direita. E quando você vai para o sul, ambos os tufos são puxados”. Para manter o caminho certo, bastaria ter certeza de que a sensação não mudou.
Essa é uma possibilidade. Outra é que existam fotopigmentos em seus olhos, os criptocromos, capazes de detectar quimicamente o campo magnético e fornecer um estímulo visual que o animal utiliza como bússola. Assim, ele pode ver o campo magnético como um padrão, uma ampla gama de luzes ou cores que mudam de acordo com a direção para a qual ele olha.
Evidências mostram que é o caso de alguns animais. Criptocromos são encontrados na retina de pássaros migratórios e aparentam ser ativados quando eles estão no ar. Experimentos também comprovam que células da retina com criptocromos estão conectadas à região do cérebro que, quando removida, inibe a capacidade dos pássaros de se deslocar usando o campo magnético.
A ciência está longe de saber o que os animais sentem ao detectar o magnetismo. Mas há esperanças. Descobertas recentes sugerem que a mosca-da-fruta e o peixe-zebra podem detectar campos magnéticos. Por terem cérebros menos complexos, são ideais para análise.
4. Olhos de abelha;
Quando uma abelha sobrevoa o seu jardim, ela não vê a mesma coisa que você. As flores saltam de um fundo folhoso muito mais escuro, dotado de uma pista de aterrissagem com refletores ultravioletas que indicam o caminho ao néctar. Algumas aranhas se arriscam a imitar essas linhas e tecem padrões ultravioletas em suas teias para enganá-la. Se resistir à armadilha, a abelha encontra o caminho de volta pra casa observando no céu o padrão de luz polarizada — que oscila somente em uma direção. Como? Por meio da visão pixelada em mosaico do seu olho composto, com 5 mil pontos compondo uma imagem.
Não é das coisas mais fáceis de imaginar. Mas, acredite, a complexidade do sistema de visão da abelha é comparável à do humano, já que também possui receptores para apenas três cores — ultravioleta, azul e verde, enquanto o aparato humano enxerga azul, verde e vermelho. Podemos ter uma visão aproximada de como as abelhas enxergam ao observarmos fotografias de cor falsa, em que o vermelho é filtrado e o ultravioleta adicionado numa cor visível aos olhos humanos.
Também é possível comparar a habilidade das abelhas de detectar a polarização da luz com nossas capacidades. “Assim como distinguimos o vermelho do azul, elas diferenciam uma polarização da outra”, diz Bill Stark, pesquisador que estuda a visão dos insetos na Universidade Saint Louis em Missouri. Tal habilidade ajuda as abelhas a se deslocarem usando a posição do Sol. A luz polarizada é medida por detectores simples e, assim, é possível criar imagens com o tipo de informação detectado (veja o diagrama abaixo).
Soa estranho? Não é nada ao comparar com insetos que possuem até seis receptores de cores, com os quais veem tons inimagináveis para nós humanos. Para eles, o mundo de três cores seria como um dia cinzento.
3. O mundo do som do morcego
Um morcego provavelmente não teria problema em imaginar como é enxergar como um humano. Para nós, projetar o mundo deles é mais complicado.
Morcegos que se alimentam de insetos e frutas obtêm grande parte dos detalhes que precisam por meio da ecolocalização: cliques, ruídos e gritos emitidos em até 120 decibéis — o volume de uma ambulância. Para nosso alívio, a barulheira desses seres é feita em ultrassom, acima do que a audição humana pode captar.
O eco dos sons fornece aos morcegos uma quantidade imensa de informação sobre os arredores. O tempo que leva para um eco retornar, por exemplo, mostra a distância de um objeto; já as mudanças na frequência do som ao reverberar em outra criatura pode revelar a direção e a velocidade do movimento do animal.
A sensibilidade da ecolocalização é fenomenal. Um estudo publicado em 2010 pelo Journal of the Acoustical Society of America descobriu que morcegos podem detectar diferenças nas distâncias entre eles mesmos e sua presa com precisão entre 4 e 13 milímetros. É o suficiente para caçar um inseto sem problemas. Sabe-se também que diferenças sutis no tom dos sons revelam a identidade de seus semelhantes, como se fossem vozes.
Para nós, humanos, dependentes das informações visuais, é difícil imaginar um mundo sonoro. Até mesmo pessoas com cegueira desde a infância, como Daniel Kish, sentem dificuldade de vislumbrar. Por volta dos 2 anos, ele começou a reconhecer os arredores ao fazer cliques com a língua e, a partir disso, escutava os ecos que reverberavam de pessoas e objetos. Embora consiga reconhecer móveis ao seu redor, sua habilidade não pode rastrear movimentos dos objetos com o eco dos estalos, uma das principais habilidades dos morcegos.
Mesmo cientes dos poderes desses animais, estudiosos não conseguem estipular se os ecos podem ser visualizados e se, durante a caçada, alternam a visão com ecolocalização. É o que falta saber.
2. Cobras à procura de calor
Serpentes-píton, jiboias e jararacas veem o mundo da mesma forma que nós, com um detalhezinho a mais: também “enxergam” em infravermelho. Graças ao mecanismo, conseguem rastrear presas a até um metro de distância pelo calor de seus corpos.
Elas utilizam um órgão simples, a fosseta loreal, localizada próximo às narinas. Embora sua função varie um pouco entre as espécies de cobras, é sempre uma cavidade com uma membrana cheia de terminações nervosas sensíveis ao calor que atuam como receptores de infravermelho. O órgão foi descrito pela primeira vez em 1952, mas somente no ano passado que os canais de proteína específicos que reagem com o calor foram identificados. A descoberta foi de que eles são encontrados em células nervosas do sistema sensorial que detectam toque e temperatura e registram dor.
Ainda que a fosseta loreal seja separada do sistema visual, seu conjunto de informações acaba numa parte do cérebro chamada de teto óptico. “Lá, os dois mapas do espaço — visual e infravermelho — se fundem em um só”, diz o neurocientista Michael Grace, que estuda o sensor térmico de jararacas no Florida Institute of Technology, em Melbourne.
Grace acredita que isso permite às cobras enxergar em infravermelho e luz visível ao mesmo tempo, ou mudar entre uma e outra. Quando estão caçando numa toca escura, elas podem usar o “mapa de calor” para abocanhar sua presa e então voltar à visão normal. Também podem usar os dois sentidos ao mesmo tempo quando a luz é suficiente para enxergar e está frio o bastante para que o calor da sua presa se destaque.
Para os estudiosos, a combinação de imagens de vídeos normal e infravermelho dá uma boa ideia de como seria este mundo.
1. Focinhos sofisticados
Você já pensou como um cachorro, que tem um olfato mil vezes mais sensível que o nosso, consegue colocar a cara numa lata de lixo? Alexandra Horowitz, pesquisadora de cognição canina da Universidade de Columbia, em Nova York, já. Ela explica que o melhor amigo do homem sente uma versão mais poderosa do que nossos narizes podem captar. “Não é que os cheiros sejam mais ‘altos’”, diz. “Os cheiros têm diferentes camadas e provavelmente fornecem ao cachorro muito mais informações.” Ela compara a experiência a ver uma pintura a uma certa distância e, depois, apreciá-la de maneira diferente, bem de perto, observando as marcas do pincel.
Cheirar, sugere Horowitz, pode ser uma maneira do cachorro entender a passagem do tempo. Ele faz isso ao cheirar a urina de outro cão e notar, pela intensidade do cheiro, se o colega passou por ali ou não. Comportamento semelhante foi obtido num estudo de 2005, em que cães conseguiram detectar diferenças sutis do cheiro entre uma pegada e outra. Eles seriam capazes até de imaginar o futuro quando o vento traz cheiros de homens, animais e objetos.
Ao cheirar uma rosa, então, um cachorro pode sentir as peculiaridades de cada pétala, saber se cada uma delas foi visitada por insetos e detectar se um humano a tocou ou não (veja como no diagrama abaixo). Assim não fica difícil entender a fascinação que um cachorro obtem ao cheirar um poste, não?
[Galileu]
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