terça-feira, 16 de julho de 2013

Os castelos e cavernas de Sintra, refúgio dos nobres portugueses...


Os castelos e cavernas de Sintra, refúgio dos nobres portugueses...


Por melhor que seja o começo ou o fim, todo conto de fadas tem um vilão. Na minha aventura em Sintra, cidadezinha portuguesa a 32 km a oeste de Lisboa, ele tomou a forma dos ponteiros do relógio, pois passeando pelo interior dos castelos impecáveis sobre aquelas colinas, eu quis muito que eles pudessem parar.

Foram necessários apenas 53 minutos para voltar vários séculos no tempo. É verdade que o trem que saiu da estação do Rossio, uma das principais da linha férrea de Lisboa, estava lotado de distrações da era moderna. Em meio a uma multidão de engravatados e pais empurrando carrinhos, era promissor saber que eu era a única passageira só com uma mochila, sem o peso das preocupações e da parada obrigatória nos subúrbios, livre para trocar a rotina sem graça pela aventura no fim da linha.
Foi só depois de passarmos pela penúltima parada, onde o outro passageiro que dividia o vagão inteiro comigo desceu, que o cenário começou a parecer coisa de outro mundo. Olhando pela janela e sonhando acordada, com o nariz quase esmagado contra o vidro, eu me encantava com as pinceladas de cores que passavam por mim: condomínios de prédios cinzentos transformados em casinhas em cores pastel que, por sua vez, foram substituídas por uma confusão de árvores parrudas.
Quando chegou a minha vez de descer, todos os traços da capital tinham desaparecido. E fui recebida por uma paisagem para lá de pitoresca: um punhado de restaurantes e lojinhas, ruazinhas sonolentas agradáveis e um relógio de rua à moda antiga ‒, mas apesar do cenário encantador, não pude deixar de lançar um olhar ao longe, reconhecendo as encostas íngremes e a explosão verde à sua volta, retratada em inúmeros postais. Durante séculos, o pequeno centro serviu como o refúgio favorito da família real portuguesa. A um pulinho do centro político e econômico mais importante do país, as colinas verdejantes ofereciam à aristocracia uma fuga sossegada dos ares da cidade. Segundo os moradores, o mau tempo forçou Cristovão Colombo, rumo a uma de suas expedições menos auspiciosas, a ancorar ali perto antes de seguir caminho para Lisboa, mas foi só depois da chegada de Ferdinando II, rei de Portugal, em meados do século XIX, para construir uma casa de veraneio elaborada, que a região inteira fez por merecer o título de Patrimônio da Humanidade concedido pela Unesco, com propriedades imensas que registram um milênio de influências arquitetônicas.

Sintra continua sendo a região portuguesa mais valorizada, mas dois grandes projetos ampliaram seu apelo para os turistas estrangeiros: vários hotéis novos aumentaram muito as opções de acomodação em um lugar onde não há uma única vaga durante a alta temporada ‒ e em 2012, o serviço de bondinho foi reativado (2 euros o bilhete de ida, ou cerca de US$2,60 com o euro a US$1,32). Funciona só no verão, mas em 45 minutos vai à Praia das Maçãs, balneário de cujas falésias é possível admirar as praias de areia branca ao longo da costa oeste. Basta um olhar para a paisagem de Sintra para saber por que Lorde Byron a descreveu como "glorioso Éden": as florestas luxuriantes se espalham por todas as direções. O verde está sobre todas as superfícies, desde as rochas cobertas de musgo às vinhas que se enrolam ao redor dos troncos. As raízes grossas de árvores caídas apontam para o céu e os brotinhos minúsculos despontam nas menores fissuras das paredes de pedra. A abundância me envolveu como um mundo místico.


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