terça-feira, 25 de junho de 2013

O país diante do espelho da História. Já de muito que se busca a verdade!



O país diante do espelho da História.

Já de muito que se busca a verdade



Na campanha “Ouro para o Bem do Brasil” população foi enganada e nunca se soube onde foi parar o dinheiro









Quem se depara com escândalos como o do mensalão, ou do caso Cachoeira, nem imagina que um dia houve a campanha “Ouro para o bem do Brasil” que enganou famílias inteiras
Em 1964 uma crise política alicerçada por uma inflação devastadora, contribuiu para a eclosão de um golpe de estado que levou o Exército a comandar o país na figura do marechal Humberto de Castelo Branco. Os cofres públicos estavam vazios e o Brasil sem reservas cambiais que pudessem conter a alta exorbitante do dólar.
Diante do quadro desolador, os Diários e Emissoras Associados - grupo empresarial de mídia comandado por Assis Chateaubriand, popularizado como “Chateau” na obra monumental do escritor Fernando Moraes - buscando quem sabe, aproximação com os novos governantes, lança uma campanha na qual os brasileiros doariam suas joias em ouro recebendo em troca alianças de latão e um diploma com os dizeres: “Dei ouro para o bem do Brasil”.



Com chamadas e campanhas pelo rádio e televisão, mais os jornais do então poderoso grupo empresarial, a população mais humilde de São Paulo, especialmente, se comoveu com a situação difícil da nação brasileira, se mobilizando mais uma vez em um ato de cidadania. Sugeria-se que as pessoas, sendo casadas, dessem suas alianças de ouro em troca de outras em metal com a gravação da campanha símbolo da Tupi.

Muitos fizeram isso e houve ainda quem doasse colares, brincos e outros objetos de ouro, até dinheiro do próprio bolso, para ajudar nossa terra a se levantar dos infortúnios vividos no período que antecedeu à “Redentora”, denominação dada ao golpe de estado pelos favoráveis ao novo regime, que também foi chamado em outros setores de “Revolução de 1964”.
Assis Chateaubriand, cujo nome completo era Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Mello, comandava um verdadeiro império das comunicações entre emissoras de rádios, TVs, jornais e revistas pelo Brasil afora, entre as quais “O Cruzeiro”. A ideia era obter lastro para a moeda nacional com o ouro arrecadado.
O nome para a campanha foi inspirado em outro movimento realizado durante a Revolução Constitucionalista de 1932, onde a população doou “Ouro para o bem de São Paulo”, criando uma “moeda paulista” que circulou em todo o estado durante o boicote comercial imposto pela ditadura Vargas, impedindo São Paulo de efetuar qualquer atividade em nível nacional.
Após o desenlace daquela revolução, o ouro arrecadado em 1932 foi utilizado na construção de um prédio no centro da cidade, no formato da bandeira paulista, localizado na Rua Álvares Penteado, 23.
O lançamento da versão “Ouro para o Bem do Brasil” aconteceu no início de 1964 e contou com o apoio de uma parte da população e também de algumas empresas. Prefeituras chegaram a promover manifestações com desfiles em vias públicas onde escolares portando faixas, exibiam dizeres alusivos à campanha.
O jornalista Ademir Médici, que mantém coluna no jornal Diário do Grande ABC, escreveu certa vez que a Dulcora, indústria de São Bernardo do Campo que fabricava o dropes Dulcora, ajudou na campanha modificando a cor da embalagem de seu principal produto que ganhou a cor ouro.
A revista “O Cruzeiro”, em 13 de junho de 1964, apresenta um balanço parcial informando que mais de 400 quilos de ouro e cerca de meio bilhão de cruzeiros haviam sido doados pelo povo e por autoridades civis e militares: “... a campanha, primeiro grande movimento dos ‘Legionários da Democracia’, foi aberta com a presença do senador Auro Soares de Moura Andrade, presidente do Congresso Nacional, que recebeu do Sr. Edmundo Monteiro, diretor-presidente dos Associados Paulistas, a chave do cofre em que será colocado o ouro e as doações em dinheiro que serão entregues, posteriormente, ao presidente da República, marechal Castello Branco...”
A revista dá conta que inúmeras personalidades do governo federal compareceram ao saguão dos Associados, na Rua sete de abril, no centro da capital bandeirante, durante uma vigília cívica de 72 horas, para emprestar apoio e fazer suas doações para a campanha do ouro. “... o ministro do Trabalho, Sr. Arnaldo Sussekind, representando o general Amaury Kruel e diversas outras autoridades prestigiaram o movimento dos ‘Legionários da Democracia’.



O Governador Adhemar de Barros doou, de livre e espontânea vontade, os seus vencimentos do mês de abril, num montante de 400 mil cruzeiros...”, informa ainda a publicação, salientando que mais de 100 mil pessoas fizeram doações desde as mais modestas, até as mais abastadas, depositando cheques de até 10 milhões de cruzeiros, vindos também de várias firmas, além de carros oferecidos pela indústria automobilística nacional e inúmeras outras doações de grande monta.
As TVs Tupi Canal 4 e Cultura Canal 2, pertencentes aos associados, transmitiam ao vivo da sede da empresa, com o repórter, José Carlos de Moraes, o “Tico – Tico” narrando que os populares que doavam objetos de ouro de uso pessoal, tais como alianças, anéis e outros, recebiam em troca uma aliança de metal com os dizeres: ‘Doei Ouro para o Bem do Brasil’.
Não há registro na internet de nenhuma transmissão alusiva à essa campanha, mas há imagens do repórter Tico– Tico entrevistando o ex – presidente João Goulart, por ironia vítima do golpe que levou Castelo Branco ao poder.
Nos jornais, Diário de São Paulo e Diário da Noite se antecipava que a campanha “Ouro para o Bem do Brasil” seguiria na capital, até o dia 9 de julho, quando então peregrinação teria início no interior do estado.
Apesar da campanha, seguimentos mais esclarecidos da sociedade não se mobilizaram, evidentemente porque era previsível que não se alcançaria um valor suficiente para cobrir as reservas cambiais de um país do tamanho do nosso, suprindo aquilo que se arrecada nas atividades do comércio, da indústria e da agricultura que geram empregos e proporcionam os negócios de exportação e importação, estes sim capazes de tocar a economia.
Claro que a campanha não foi adiante, entretanto jamais foi informado sobre o que foi feito com todo ouro e o dinheiro arrecadado. Por parte do governo não houve sequer a uma nota de agradecimento.
Em lugar nenhum da internet, ou nos arquivos dos jornais, encontramos números definitivos dessa campanha e nem o que aconteceu com o montante obtido junto aos abnegados contribuintes. Nunca se soube do paradeiro da chave do cofre da campanha, entregue ao senador Moura Andrade, ou se ele ficou com ela de fato. Isso nos leva a crer que a campanha “Ouro para o Bem do Brasil” não passou de um golpe aplicado contra a população honesta, mais uma malandragem entre tantas, na história deste país e o pior, com o uso da mídia.



Se hoje achamos que a ladroeira alcançou níveis nunca vistos, a história dessa campanha dos Diários Associados deixa claro que a picaretagem sempre agiu solta e o que muda é a maneira como se aplica o golpe.
O lamentável é que pessoas honestas, pais de família e suas esposas que doaram as alianças que simboliza a união abençoada por Deus entre os casais, foram enganados não para o bem do Brasil, mas daqueles que enriqueceram sem que o assunto fosse sequer apurado.

Geraldo Nunes*
Geraldo Nunes, jornalista e memorialista, integra a Academia Paulista de História
geraldonunes@jornalmovimento.com.br





Jane Bueno de Camargo Como é duro ser testemunha ocular da história e ver que nada muda.

João Eli Cassab Jane Bueno de Camargo Amiga... Tudo bem? Vi meus pais se mobilizarem, dando suas alianças de ouro cedendo funcionários e transporte para que tudo viésse para a capital S/P e depois .... nada se falou mais....restando só uma aliança de latão para cada um deles, igual a que se vê na foto acima e outra formas de arrecadação como; o compulsório arrecadado nos combustíveis que seria devolvido e que nunca aconteceu... e vai por aí... Fanantasías e sonhos que se volatizaram né? E vamos por aí...






















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